De desenhar cartazes a banners: como mudou o design gráfico em 100 anos

· por Isabel Santomé
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design de cartazes nasceu para transmitir mensagens, tanto informativas como comerciais, a determinados públicos. Com o passar do tempo e a mudança impulsionada pela digitalização, surgiram novas formas, novos conceitos e novos suportes para comunicar, como os banners e outros suportes publicitários em formato multimédia. Ainda que o objetivo continue a ser o mesmo, fazer chegar uma mensagem a um público e gerar um comportamento em relação à mesma, as características e condicionantes para a criação de um banner têm muito pouco que ver com a criação de um cartaz.

Já dizia Marshall McLuhan que “o meio é a mensagem”. A sua reflexão queria destacar que, se o meio muda, a mensagem é distorcida. Devemos então adaptar-nos à tecnologia.

Assim, para conseguir transmitir uma mensagem de forma eficaz, é necessário ter em conta vários fatores:

  • Cada suporte é diferente: o digital permite movimento, por exemplo.
  • O contexto em que é visto é diferente: enquanto um cartaz é visto na rua, um banner é visto num telemóvel ou computador.
  • A pessoa e a própria sociedade mudaram. Hoje em dia, o recetor vive num mundo saturado de mensagens, tem uma maior cultura visual e dedica pouca atenção. Assim, no momento de criar o design para diferentes suportes, é necessário pensar em algo mais do que a imagem ou a tipografia.

Ao longo da história tem havido grandes exemplos de como transmitir uma mensagem de forma adequada, o que demonstra como evoluíram o design gráfico e as tendências que marcaram cada época.

Dos cartazes estáticos aos cartazes em movimento

No final do século XIX, os avanços na técnica conhecida como litografia permitiram reduzir os custos e acelerar a produção de cartazes, que rapidamente se tornaram no meio massivo de comunicação por excelência para as marcas. Em plena Belle Époque, Paris tornava-se o epicentro dos cartazes modernistas, com Toulouse-Lautrec como referência. Os seus desenhos para o Moulin Rouge, bem como o de La Goulue, marcaram o início do cartaz modernista como elemento de comunicação comercial, mas a sua grande qualidade estética também os eleva a obras de arte, transformando as ruas em galerias improvisadas de Arte Nova.

Mas se há um cartaz que se tornou num verdadeiro símbolo do momento e um ícone da cultura popular é o Le Chat Noir de Steinlen.

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Além de Paris, nomes como Ramón Casas e o artista checo Alphonse Mucha também marcaram a época tornando míticas algumas marcas.

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Depois da Arte Nova, viria o construtivismo russo e, influenciado por ambos, chegaria a Art Déco. Estas tendências têm influência, logicamente, na comunicação e no design gráfico comercial, deixando alguns cartazes que ficaram na história.

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As Guerras Mundiais também foram ricas em termos de design de grandes cartazes. Desde o cartaz “I want you” de Montgomery Flagg ao “We can do it!” de J. Howard Miller, ambos são exemplos de design.

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Depois do período bélico, o cinema tornou-se numa das indústrias mais frutíferas em relação ao design de cartazes. Para a comercialização dos seus filmes, as produtoras utilizaram este recurso, destacando os designs magistrais do designer de cartazes cinematográficos Saul Bass, que mergulhou no imaginário coletivo com o seu perfeito equilíbrio entre simplicidade e complexidade. Em cartazes como o de Vertigo, Bass soube transmitir os valores de um filme através de um desenho, como nunca dantes tinha sido feito, sendo reconhecido hoje em dia como um dos principais pioneiros do branding.

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Bass é ainda um magnífico exemplo do tema deste artigo, pois soube evoluir e adaptar-se a novos suportes, reciclando-se profissionalmente e chegando a ser o mestre dos créditos de filmes, os “cartazes em movimento”.

O designer de cartazes cinematográficos Reus Macari Gómez Quibús (MAC) passou de desenhar a caneta os anúncios de filmes na imprensa a desenhar os cartazes de filmes muito famosos dos anos 60 e 70 como CasablancaPsycho, Citizen Kane, Um elétrico chamado desejo, Moulin Rouge ou Guerra e Paz. Mais tarde, nos anos 80, tornou-se no rei das capas de vídeo usando fotografias e imagens digitalizadas.

Da publicidade criativa aos banners inteligentes

E a partir de créditos e da fotografia digital, o mundo do design gráfico abriu-se para os suportes multimédia como os banners e campanhas digitais, ultrapassando de longe a barreira estática de suporte promocional para interagir com o contexto.

Os consumidores deixaram de ser meros espetadores de uns “cartazes” que agora geram experiências, sensações e emoções. Assim, para o design, é necessário algo mais do que a estética e a mensagem: como já dizia McLuhan, é preciso adaptar-se ao meio. Agora devemos ter em conta oportunidades como a possibilidade de adaptar a mensagem ao utilizador. A Netflix, por exemplo, mostra diferentes capas ou capas da mesma série de acordo com dados sociodemográficos ou preferências do utilizador. Isto também permite realizar ações (um banner, além de anunciar como um cartaz, permite que o utilizador vá até à página de reservas ou compras) ou permite, por exemplo, o movimento, como estes exemplos:

CHEAPFLIGHTS: “DRAG DROP AND GO”

Uma campanha que merece ser reconhecida é a “Cheapflights. Drag Drop and Go”. Neste caso, os criativos conjugaram um design criativo com a tecnologia mais inovadora e intuitiva para proporcionar uma mais-valia incrível à marca: a capacidade de fazer pesquisas inteligentes através de banners.

O utilizador pode arrastar qualquer imagem sobre um concerto ou um evento para cima do banner de Cheap Flights. Numa questão de segundos, o suporte digital procura a melhor oferta de voo para ir àquele evento, tendo em conta a sua localização. O resultado é surpreendente. 92% dos utilizadores impactados clicaram no banner.

CANADIAN SAFE SCHOOL NETWORK: “BULLY ADS”

Um bom exemplo da ultrapassagem da barreira entre design e conceito é a premiada campanha canadiana “Bully Ads”. A ação publicitária encontrou uma forma de criar consciência sobre o bullying neste país: colocaram um pixel na sua página para poder fazer cyberbullying através do retargeting dos utilizadores. Assim, conseguiram recriar a sensação que as crianças têm ao ser incomodadas através deste elevado nível de frequência.

 

Desta forma, os designers também se adaptaram às tendências. Mas estas já não são a Arte Nova ou o construtivismo, mas sim os últimos avanços tecnológicos. E fazê-lo sem perder a mensagem e impacto dos primeiros cartazes de Lautrec. Porque seja qual for o suporte, o objetivo do design é o de transmitir uma mensagem e responder aos interesses e valores da marca e do seu plano estratégico.

Razoável